Ilhas da Ria Formosa – capítulo I


O primeiro troço do percurso teve início na praia do Ancão, limite ocidental da Ria Formosa, e terminou na Barrinha, barra marítima que separa a ilha de Faro da ilha da Barreta.

A imagem seguinte contém o percurso registado pela aplicação Highway Star que desenvolvi para o sistema operativo Android.

O ficheiro KML do percurso está aqui: RiaFormosa-cap1.kml

Ilhas-mapa-01

Início: 25-09-2015, 18:04
Velocidade média: 6.568 km/h
Tempo: 01h 46m 31.747s
Espaço: 11.661 km

A ilha de Faro é, na verdade, uma península: não é uma ilha, está ligada ao continente na zona da praia do Ancão.

Demos início à caminhada com a maré praticamente vazia. Caminhámos sempre sobre a areia molhada e eu caminhei descalço durante todo o percurso.

Início da caminhada, na praia do Ancão
Cap1-Ancao-1

Um casamento na praia do Ancão. É usual fazerem-se casamentos na praia, durante o verão. No ano de 2015 presenciei vários casamentos nesta mesma praia.
Cap1-Ancao-2

Chegada à praia de Faro
Cap1-PraiaDeFaro

Já tinha, anteriormente, feito uma grande caminhada antes pela areia e tinha andado sempre descalço. Foi em 1984, do bico das lulas na península de Tróia, em Setúbal, até à lagoa de Santo André, cerca de sessenta quilómetros, num percurso que demorou dois dias. Nessa jornada, ressenti-me apenas de não ter usado óculos escuros: no fim do percuros via tudo vermelho: pinheiros, cães, etc. Mas não tive mazelas nos pés por ter ido descalço.

Desta vez, tínhamos um limite temporal a cumprir: era necessário chegar à Barrinha antes das 19h30m, para podermos fazer a travessia marítima com maré vazia, em segurança. Por isso, tivemos que imprimir um ritmo elevado à nossa caminhada, o que nos causou algumas lesões logo no primeiro troço da travessia das ilhas.

Acresce a isso o facto de que os mapas indicavam uma localização para a Barrinha que não era real. A localização dada pelo Google, inclusive no mapa de satélite, já não existia: assoreou entretanto. E portanto tivémos que andar mais do que o previsto, mas sempre condicionados pela hora da maré.

Cap1-Barrinha-0

No mapa acima, vê-se um canal que separa as duas ilhas – Faro à esquerda e Barreta à direita – que eu esperava atravessar a nado, com um comprimento estimado de cinquenta metros na maré vazia. A linha vermelha indica o nosso percurso. Esse canal dista, no mapa, cerca de oito quilómetros do início do percurso, a praia do Ancão. Mas passaram oito, nove, dez quilómetros e o canal não aparecia. E o tempo ia passando. E a maré estava a começar a subir. Estava a subir ligeiramente, mas já se via a ondulação a ganhar força, e a água a cobrir areias antes descobertas.

Cerca de quinhentos metros antes da barra anunciada, e uma vez que não era possível avistá-la nos quilómetros mais à frente, subi o cordão de areia para, de uma posição mais elevada, ter uma perspetiva mais ampla do caminho restante. Não consegui ver nada. Não parecia haver fim no cordão dunar. É certo que o sol estava a desaparecer e que a baixa luminosidade já não me permitia distinguir bem a areia de algum canal marítimo que existisse mais à frente, mas não vi sinais do fim da ilha.

Vi, no entanto, outra coisa. Naquele preciso local estavam a decorrer obras de grande envergadura. Aliás mais à frente, na ilha da Culatra e na ilha de Cabanas, estavam a decorrer obras de grandes dimensões, também. Não consegui perceber do que se tratava. Imaginei que fossem obras para a criação de infraestruturas de água e saneamento, mas este cordão de ilhas é parque natural e as políticas têm sido sempre consistentes com isso: demolir as construções ilegais e limitar o acesso às ilhas. E obras de saneamento de tamanha envergadura pareciam contrárias a essas políticas. Coloquei também, como hipótese, a construção de equipamento de defesa e de observação da orla marítima. Mas não consegui, na altura, aclarar esta questão.

Hoje fiz uma pesquisa na Internet com o objetivo de deslindar esta questão e encontrei uma notícia que parece esclarecer que obras estavam a decorrer na Barrinha e na Culatra. Aparentemente, o que eu presenciei na ilha de Faro eram obras de desassoreamento da ria e da barra do Ancão (Barrinha). É provável que, numa próxima travessia das ilhas, a barra do Ancão (Barrinha) já esteja desassoreada e tenha que ser atravessada a nado.

Quanto à ilha da Culatra, na zona do Farol, encontrei uma outra notícia que reforça a anterior sobre o propósito das obras: o desassoreamento da praia para melhorar o canal de navegação. O que é curioso é essa intervenção estar a ser feita na zona balnear, junto ao mar, onde não há nenhum canal de navegação, interditando, além disso, os banhistas de acederem à praia.

Na obra da ilha de Faro havia grandes escavadoras e camiões, que estavam já parados àquela hora da tarde, quase noite. A zona da obra estava fechada com uma cerca de material plástico, de norte a sul, para não permitir a passagem de pessoas para leste, para onde nós íamos. No entanto, com a maré vazia, passava-se pela areia molhada sem se dar conta da cerca, ou das obras. Havia pescadores para leste da cerca, assim como alguns turistas, nomeadamente um casal que passou por nós agarrado a uma garrafa de champanhe: Moet & Chandon!

Continuámos a caminhar e, cerca de meia hora mais tarde, chegámos à Barrinha.

Quase à chegada à Barrinha, o pôr do sol: uma explosão termonuclear.
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Chegada à Barrinha, às 19h50m ainda com maré vazia e parada.
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