Ilhas da Ria Formosa – capítulo VII


O sétimo troço foi a ilha da Armona em duas partes: primeiro até ao restaurante, depois até à barra Armona-Tavira.

As imagens seguintes contêm os percursos registados pela aplicação Highway Star que desenvolvi para o sistema operativo Android.

Os ficheiros KML dos percursos estão aqui: RiaFormosa-cap7A.kml e RiaFormosa-cap7B.kml

Ilhas-mapa-07A
Início: 26-09-2015, 14:37
Velocidade média: 4.314 km/h
Tempo: 00h 21m 41.696s
Espaço: 1.560 km

Ilhas-mapa-07B
Início: 26-09-2015, 16:26
Velocidade média: 4.582 km/h
Tempo: 01h 36m 34.128s
Espaço: 7.374 km

Eu tinha projetado almoçar num restaurante, aqui na Armona. Era uma das duas refeições que queria fazer fora, a outra seria o jantar na ilha de Tavira. Tinha levado comida para todas as outras refeições e apenas para essas.

Subimos a duna e vimos que o aglomerado de casas ficava a norte, mas teríamos que caminhar pela areia seca o que poderia tornar-se cansativo.

Chegada à Armona, com a povoação ao fundo
Armona-01

Assim, decidimos continuar ao longo da costa, pela areia molhada. Era fim de setembro, fim das férias para muitos veraneantes, e por isso a praia estava quase vazia. Ao chegarmos ao canto sueste da ilha da Armona, estava um casal de nudistas a apanhar sol de barriga para o ar e de pernas abertas. Ela era jeitosa e deu-nos ânimo para continuarmos. 🙂

Virámos para norte e, uns duzentos metros mais à frente, perguntámos ao nadador-salvador onde se podia almoçar. Eram quase três horas da tarde e muitos restaurantes deixam de servir a essa hora. Além disso, a época alta já tinha terminado, portanto poderíamos ter dificuldade em encontrar refeições.

Indicou-nos um restaurante logo no início do aglomerado de habitações – o restaurante Santo António – e foi para aí que nos dirigimos.

A esplanada ficava a leste do edifício e, por isso, estava à sombra, àquela hora. Estavam duas mesas ocupadas. Numa delas estava um casal de estrangeiros pouco faladores, na outra um grupo de portugueses – turistas de profissão – que não se calou enquanto lá estivémos. Já tinham estado no México, em Cabo Verde, no Brasil, na ilha Margarita, e tinham um forte opinião formada sobre todos aqueles lugares, como se lá tivéssem vivido a vida toda. Custa-me ouvir parvoíces quando pretendo descansar e descontrair e, nem mesmo a frase de Cristo “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” me conseguiu aliviar a tensão.

Olhei para a ementa e decidi de imediato: “um bife de atum, por favor, e uma caneca de meio litro de cerveja”.

Armona-02

Talvez a cerveja conseguisse descontrair-me os tímpanos e os meus ouvidos passassem a ouvir a fraca ondulação de vinte centímetros, a quinhentos metros de distância, na costa… E resultou: ou me descontraiu os tímpanos ou me aliviou o fígado, e os disparates vindos da mesa oeste deixaram de me incomodar.

O Igor aproveitou para carregar o telemóvel no restaurante: os empregados foram simpáticos e compreensivos.

O bife de atum vinha com uma apresentação gourmet… Nem mesmo no fim das férias conseguem fazer uma prato menos bonito e mais substancial? Eu estava à espera de um prato recheado de acompanhamentos: batatas e legumes cozidos, por exemplo, mas para além do atum, o prato trazia apenas umas fitinhas de qualquer coisa branca e meia rodela de tomate. Lá se foi a minha esperança de comer algo fresco, de ingerir potássio para compensar a perda de líquidos e equilibrar o sal do atum.

Armona-03

Ainda tínhamos muito tempo até à próxima maré baixa e a barra seguinte estava a cerca de oito quilómetros, portanto não havia pressa. Bebi um café, fui à casa de banho, recostei-me na cadeira e, uma hora e meia depois de chegarmos, partimos outra vez.

Caminhámos pela praia durante meia hora. Subimos, então, a duna para ver o aspeto do interior da ilha.

Armona-04

A vista era a paisagem típica das ilhas da Ria Formosa, pequenos arbustos, com um cheiro seco, muito seco, e ligeiramente doce, mas também muito caraterístico, proveniente da planta do caril, entre muitas outras.

Com a maré a vazar vão ficando gravadas, na areia, pequenas impressões, algumas delas muito curiosas e interessantes.

Armona-05

A meio caminho da praia da Fuzeta, deparámos com uma visão pouco agradável: uma tartaruga morta no meio da areia. Já estava morta há uns dias, exalava um cheiro a defunto, a pele estava esbranquiçada e faltavam-lhe partes das extremidades.

Armona-06

Já se viam pessoas a passear pela areia, pelo que devíamos estar próximos da praia da Fuzeta. Pouco depois, chegámos à zona balnear da praia da Fuzeta Mar.

Tirei tantos autorretratos – o seguinte até foi o primeiro de todos – que um indivíduo, aparentemente moldavo, se ofereceu para fazer a fotografia. Declinei agradecido, mas o meu gosto no que toca a enquadramentos não é muito comum, por isso prefiro ser eu a fotografar-me.

Armona-07

Esperávamos que a barra Armona-Tavira fosse cerca de três quilómetros mais à frente, tal como vinha indicado nos mapas que consultámos. No entanto, as correntes marítimas e a maleabilidade dos cordões dunares, tornam a configuração e o formato das ilhas imprevisível.

Bastou um quilómetro e meio para chegarmos à nova barra. A princípio nem nos apercebemos de que seria a barra Armona-Tavira, pensámos que era apenas uma poça grande que teríamos que passar até chegar à barra mais à frente.

Armona-08

Naquele bico de areia, extremo leste da ilha da Armona, estava um magote de gente a apanhar banhos de sol. Um sol que já tombava para oeste e começava a escassear. Enquanto nos preparávamos – despíamos a roupa e vestíamos os fatos de banho – ficaram a olhar para nós a tentar perceber o que iríamos fazer.

Vestimos os fatos de banho e metemo-nos na água. Percebi alguma surpresa nas caras dos banhistas, enquanto desaparecíamos água adentro, com uma mochila cheia de roupa às costas e uma prancha de bodyboard debaixo do braço.


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